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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Ichu: A festa do padroeiro e a lavagem da igreja

A primeira festa do padroeiro Sagrado Coração de Jesus da cidade de Ichu aconteceu no ano de 1928 com a chegada da imagem, segundo relatam os moradores mais antigos. Conforme alguns documentos da época, a construção da capela foi iniciada em 1926, quando os moradores da fazenda Enxu ainda costumavam frequentar missas na capela da então vila de Candeal, distante dez quilômetros. 
A Igreja Católica na vila de Candeal ia se fortalecendo, já que naquele lugar havia um número maior de protestantes. O crescimento da Igreja Católica gerou um certo incômodo entre alguns representantes da igreja protestante de tal modo que entraram em conflito havendo até agressões físicas entre católicos e protestantes dentro da capela.

Depois desse acontecimento, o padre começou a celebrar missas na fazenda Enxu, a pedido dos moradores. A partir de então, a fazenda passou ser um ponto de referência para a realização de missas e de alguns sacramentos como batizados. 

No dia 7 de fevereiro de 1928 chegava na fazenda Enxu, a imagem do Sagrado Coração de Jesus. A escolha do santo padroeiro se deu por conta do dono da fazenda, Joaquim Lázaro Carneiro, ser devoto e por frequentar o Apostolado da Oração na paróquia de Nossa Senhora da Conceição em Riachão do Jacuípe.

Existem controvérsias sobre a origem exata da lavagem.
Nas véspera da chegada da imagem, no dia 5 de fevereiro de 1928, um grupo de pessoas que viviam nas proximidades da fazenda, se juntaram para lavar a capela recém construída, em preparação para o recebimento da imagem, dando assim o surgimento da "Lavagem da Igreja".  Naquele dia, homens e crianças vestidas com trajes da época, calças, jalecos e chapéu de couro, iam buscar água para a lavagem numa fonte próxima à capela, conhecida por "tanque da Loca" e na volta faziam barulhos batendo nas latas vazias com as mãos e pedaços de madeira, e molhavam uns aos outros ou quem estivesse no percurso.

Já as mulheres ficavam na capela lavando e cantando benditos e cantigas de roda. A lavagem ganhou tom de brincadeira e foi tão boa que se repetiu nos anos seguintes. A lavagem era então realizada no dia 5 de fevereiro como abertura dos dias festivos que encerrava o novenário sempre no dia 7 de fevereiro em comemoração à chegada da imagem, não importava o dia da semana que caísse. 

A festa teve um toque mais dinâmico com a chegada da família de dona Zefinha. Diziam que ela veio da cidade do Rio de Janeiro. Dona Zefinha era muito desenvolvida e culta,  trouxe consigo um pouco da cultura dos antigos carnavais. Muito amiga do senhor Justiniano Soares Militão, festeiro por excelência na região.

Uma banda filarmônica de Caldeirão chamada de Barbeiros, começou animar a lavagem e as mulheres começaram a participar também das brincadeiras. As mulheres vestidas de trajes de cigana ou roupas improvisadas com lençóis, usando também colares e pulseiras feitos a partir de sementes de milho, feijão, tico-tico, pipocas, mucunãs etc.

Os homens começaram a usar máscara, chamadas popularmente de caretas feitas de roupas velhas, tecidos, papelão, cabaças, galhos de árvores e sacos de estopa. As crianças corriam assustadas, chorando com medo das caretas e se agarravam nas pernas de seus pais ou se trancavam em casa depois de serem perseguidas pelas caretas que corriam atrás das pessoas.

O dia era tão esperado que muitas pessoas iam encontrar a banda Barbeiros ainda na fazenda Cedro, a dois quilômetros da sede da fazenda Enxu. A banda tocava marchinhas e músicas da época. 

Uma pessoa a ser destacada é o senhor José Oliveira Carneiro (Duzinho), ele animava distribuindo licores ao grupo. Inclusive no início dos festejos a banda era paga pelo povo e não pela prefeitura como acontece nos dias atuais.

Após a lavagem, as mulheres saíam pedindo dinheiro aos comerciantes, homens e rapazes, quando ganhavam uma quantia, davam-se gritos, palmas, em agradecimentos. Os valores arrecadados eram repassados para a banda continuar animando a festa no sábado que havia batizados e casamentos, e no domingo na Alvorada, missa festiva e procissão. 

A cultura é dinâmica, sofre transformações ao longo do tempo. Assim, por conta da grande multidão que atraía e por causa da logística dos trabalhos, a Lavagem da Igreja foi passando por modificações.

O fato de os participantes muitas vezes lavarem o templo de qualquer jeito, molhando lugares que não deveria, chegando atrasar a ornamentação e as celebrações, fez com que a lavagem seja realizada hoje de forma simbólica, na calçada da igreja. Não se busca mais água na "Loca", pois ela deixou de existir por conta do crescimento da cidade. Hoje a água é trazida através de carro-pipa que sai molhando os foliões que dançam ao som da filarmônica que agora vem da cidade de Pé de Serra-Ba.

Também não acontece mais no dia 5 de fevereiro e sim na sexta-feira mais próxima da data da chegada da imagem, mudança feita para contemplar os filhos da terra que moram em outras cidades e que antes ficavam impossibilitados de participar dos festejos ao excelsior padroeiro. 

A lavagem começa sempre por volta das 15:00 horas e vai até quase às 19:00 horas. Percorre pelo Centro da cidade, até que chega no Barracão Municipal, onde "pega fogo". A velha guarda se mistura com os jovens e crianças e sempre termina com o gosto de quero mais. 

Os trajes também sofreram alterações. Atualmente algumas mulheres, em sua maioria negras, se vestem de baianas.

Na tentativa de animar ainda mais a lavagem, a paróquia criou um concurso que premia a baiana mais animada e a máscara mais criativa e bem trabalhada, nas categorias adulto, juvenil e infantil, esses prêmios eram doados pela paróquia, comércio local e por filhos da terra.

No ano de 2009, a prefeitura municipal ficou com a responsabilidade de assumir o concurso de máscaras, na época o prefeito em exercício era Renato Adelino de Almeida. Neste contexto fez surgir novas criatividades de máscaras e também o surgimento de alegorias como insetos, aves, répteis, mamíferos, desenhos animados e etc.

Todos os anos surgem novas máscaras, alegorias e baianas aumentando assim o número de pessoas que participam da lavagem, que muitas vezes vem movidas pela curiosidade de ver as máscaras, saber quais são as vencedoras e ainda reencontrar com amigos e familiares que vem de outros lugares.

Fonte de pesquisa e colaboradores: Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Pastoral da Comunicação. Secretaria Municipal de Educação e Cultura, Lhayanna Karolyna, Heitor Santana, Edilma Carneiro de Almeida Araújo, André Luiz Lima Oliveira e Antonio Carlos Modesto ( Pêpa ).

Por Edicarlos Almeida - Página Hô Sertão!

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