Família de Riachão do Jacuípe impressiona com longevidade, união e cinco gerações vivas

O Calila Notícias traz esta reportagem especial no dia que o município completa 147 anos de emancipação. A familia em destaque tem dois centenários e uma 'batendo na porta'. Outro com 103 faleceu em maio

No dia em que o município de Riachão do Jacuípe comemora seus 147 anos de emancipação política e administrativa, o site Calila Notícias foi até a zona rural do município para contar uma história que traduz a essência da vida longeva, simples e marcada pela união familiar.

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Senhor João ao lado da esposa Maria Asunção, e de alguns filhos, netos,
bisnetos e tatarantetos | Foto: Raimundo Mascarenhas

Na Fazenda Serrada, localizada na região da comunidade de Pedra Lisa, a cerca de 11 km da sede municipal, vive o agricultor João Araújo Lima, de 102 anos, que segue em plena atividade, saudável e disposto. João é casado há 78 anos com Maria Assunção Carneiro, que irá completar 96 anos, daqui a 15 dias, com quem se uniu em matrimônio no dia 6 de abril de 1947. O casal, que ainda divide a mesma cama, construiu uma família numerosa com 17 filhos — cinco faleceram ainda bebês, mas 12 seguem vivos, sendo presença constante na vida dos pais. Juntos, eles somam ainda 43 netos, 56 bisnetos e 10 tataranetos.

Durante a visita do Calila Notícias, foi possível registrar um momento raro: cinco gerações reunidas, com João de Né como é conhecido o patriarca, sua esposa Maria Assunção, ao lado da filha Maria São Pedro, da neta Valdecy, da bisneta Vania, e da tataraneta Helena.

Tataraneta Helena, bisneta Vania, neta Valdecy, filha Maria São Pedro – Casal
João de Né e Dona Maria Assunção | Foto: Raimundo Mascarenhas

A neta mais velha do casal, Valdelice, completará 56 anos no próximo dia 8. O bisneto mais velho tem 36 anos.  

A seguir, um breve perfil dos irmãos e familiares centenários ou próximos dessa marca, todos exemplos de vitalidade, lucidez e vínculo afetivo profundo:  

João Araújo de Lima – 102 anos  

Protagonista da história, seu João de Né como é conhecido, é um símbolo vivo da resistência do homem do campo. Mesmo com mais de um século de vida, acorda todos os dias para trabalhar na roça. Sem doenças crônicas e com a mente ativa, ele ainda é o pilar da família e inspira seus descendentes com força, fé e senso de responsabilidade. Jamais está sozinho: sempre tem alguém por perto, mesmo sendo plenamente autônomo. Ele disse ao Calila Notícias que ao amanhecer já se desloca para a roça e quando viu a chuva cair no telhado durante a noite ainda vai com mais alegria.

João Araújo de Lima – 102 anos | Foto: Raimundo Mascarenhas

Ele não tem problema no estômogo o que permite comer tudo que estiver disponivel, porém, não abre mão de apreciar a batata, abóbora, e outros alimentos que ele mesmo planta. Bem humorado, disse que não ‘faz desfeita’ se alguém lhe oferecer uma dose de pinga. Gosta de futebol e revelou ser torcedor do Vasco da Gama e do Vitória. Ao tomar conhecimento que Valdemi de Assis e Raimundo Mascarenhas são de Conceição do Coité ele lembrou que conheceu a cidade muito pequena e perguntou sobre a Cachorrinha (Fazenda localizada às margens da BA 120, sentido Coité – Riachão) quem soube responder foi o próprio Valdemi, já que a localidade foi fundada por familiares dele.   

Senhor João disse que ouviu muito Valdemi na Rádio Sisal | Foto: Raimundo Mascarenhas

Maria Assunção Carneiro – completará 96 anos no próximo dia 15 de agosto   

Foto: arquivo da família

Esposa de João, é sua companheira de toda uma vida. Dona Maria compartilha com ele 78 anos de casados, celebrando as raríssimas Bodas de Benemerência. Ainda mantém a lucidez e é referência materna para filhos, netos e bisnetos. Atualmente vive em cadeira de rodas e conta com o apoio do esposo no que for necessário.  

Dona Isabel Carlos de Lima – 104 anos (completa 105 em 4 de novembro)  

A mais velha dos irmãos, reside atualmente em Pé de Serra, sob os cuidados da filha Anália Lopes de Araújo Carneiro. Sempre ativa, fazia todos os afazeres domésticos até sofrer uma queda e fraturar o fêmur, o que limitou sua mobilidade. Mesmo assim, mantém lucidez e bom humor, mas segundo a familia, nos últimos dias tem se mostrado fraca, muito possivelmente pela idade avançada. Não tem histórico de doença crônica.

Irmã mais velha e mais nova da familia Lima | Foto: Raimundo Mascarenhas

Dona Josefa Lima – 88 anos (completa 89 em 16 de novembro)  

A caçula entre os irmãos longevos, reside em Feira de Santana, mas veio a Riachão nesta sexta-feira (1º) para visitar a irmã Isabel. Um destaque especial é que, mesmo com quase 89 anos, frequenta aulas do EJA (Educação de Jovens e Adultos), buscando ampliar seus conhecimentos. Mãe de três filhos, é um exemplo de vitalidade intelectual.  

Dona Clemência Maria Lima (Kelé) – 97 anos (completa 98 em novembro)   

Dona Kelé, quase 98 anos, parou dos afazeres após ter fraturado o fêmur
Foto: Raimundo Mascarenhas

Dona Kelé reside há cerca de 2 km do irmão João, ela também vivia de forma ativa, dividindo sua rotina entre casa e roça. Assim como Isabel, sofreu uma queda e fraturou o fêmur, o que limitou suas atividades. Ainda assim, segue lúcida e presente na vida da família. Não fosse a fratura de fêmur, ela certamente estaria ‘correndo’ atrás das ovelhas e carneiros. 

Como pode se observar, dos 5 irmãos citados nesta reportagem, três fazem aniversário em novembro, sendo as três mulheres.  

Roque Thiago de Lima – 103 anos (falecido em maio deste ano)   

Senhor Roque também tinha uma vida independente, mas sofreu um AVC no dia
que completou 103 anos e faleceu duas semanas depois | Foto: arquivo

Roque era o irmão mais velho entre os homens. Completou 103 anos no dia 1º de maio de 2025, mas sofreu um AVC na noite do próprio aniversário, vindo a falecer 16 dias depois. Roque morava em Itiúba, mas faleceu enquanto visitava as filhas em Serrinha. Era lúcido, independente e se deslocava sozinho entre cidades para acompanhar os irmãos e visitar familiares.

A força de um legado

Essa família de raízes fincadas na terra tem algo em comum: longevidade acompanhada de lucidez, fé, união e cuidados mútuos. Segundo a neta Ângela Lima, agente comunitária de saúde, que acompanhou a reportagem do Calila Notícias, “a alegria, o respeito e acima de tudo a fé em Deus são o segredo de tanta saúde e tempo de vida. Mesmo meu avô, tão ativo, nunca está só, todos nós estamos por perto.” 

Festa de 100 anos do senhor João de Né, na foto, 10 dos doze filhos

Em uma sociedade em que o envelhecimento é muitas vezes sinônimo de fragilidade e isolamento, essa família mostra o oposto: vivência longa, cercada de amor, alimentação natural e, sobretudo, de convivência entre gerações.

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Neste aniversário de Riachão do Jacuípe, histórias como essa são motivo de orgulho coletivo, lembrando que a história de um município também é escrita nas mãos calejadas de seus filhos mais antigos — e sábios.

Fonte: Calila Notícias