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sexta-feira, 26 de maio de 2017

‘Queremos elas do jeito que estão. Vivas ou mortas’, diz avô de meninas desaparecidas

No dia 30 de abril, o corpo do traficante Robson Luiz Gomes Lima, o Robin, foi encontrado com vários tiros na zona rural da cidade de Pedrão, Centro-norte do estado. Apontado pela polícia como um dos líderes da facção Katiara, ele retornaria para Salvador, junto com a mulher, as duas filhas, e o motorista, para comemorar o seu aniversário de 33 anos.
Um dia antes, moradores encontraram dentro de um EcoSport os corpos de Danilo Luiz Araújo Souza, 24, que dirigia o veículo, e de Juliana Conceição do Nascimento, 23, esposa de Robin. O veículo estava a 5 km do sítio comprado no início do ano por Robin.
Desde então, paira um mistério sobre o paradeiro das filhas dele: Sofia, de 1 ano e quatro meses e Luna Morena, de apenas 5. Pai de Robin, Roberto Luiz do Rosário Lima, 61, não tem dúvida de que as crianças estavam com os pais. A polícia não tem pistas do destino das meninas, mas atribui as execuções a uma rixa entre facções. Laudos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) que serão anexados ao inquérito determinarão se as meninas estavam ou não dentro do veículo no memento dos disparos. Nesta segunda-feira (29) completará um mês do sumiço das crianças.

“Meus dias têm sido assim: durmo e acordo chorando. Levando às 4h, pego a chaleira na área e depois vou até a cozinha. Enquanto o café é feito, vou alimentar meus filhos – dez cães, 15 galinhas e pouco mais de 70 porcos-da-índia. Tento retomar minha rotina, mas quando chego perto do quarto onde eles dormiam… Passo de olhos fechados e com o coração apertado toda vez".
Quando eles chegavam, sempre dormiam nesse quarto, ao lado do meu, que era praticamente deles e está intacto até hoje. Desde o dia da tragédia, não tive condições emocionais de entrar no quarto. Hoje (17), só coloquei os pés porque sabia que a reportagem viria e queria mostrar as coisas de minha pequena Luna. Sobre a cama deixei a roupinha e o urso de pelúcia dela. Ela só dormia abraçada com ele (urso). Ao lado, a esteira de palha que a minha pequena aprendeu a engatinhar. Já fiz cirurgia cardíaca, uso meio mundo de remédios e agora tomo calmante para controlar a emoção.

O último dia que os vi foi uma semana antes do Carnaval. Foi maravilhoso. Lembro de cada sorriso das minhas meninas, principalmente a mais pequena, a Sofia, que era muito agarrada comigo, uma coisinha gostosinha de brincar, de carregar. A de 5 anos, já era um pouco mais sabida, observadora, de uma inteligência de surpreender. Guardo no meu bolso a foto de meu filho com elas deitados na cama do quarto. Quando a saudade bate, quase toda hora, tiro a foto e olho, e choro. Vivo nessa aflição diária.

Logo quando soube, fui direto para Pedrão. Aquela sexta-feira deu início ao meu pesadelo. Foi terrível ver a minha nora daquele jeito, morta dentro do carro, ao lado do motorista. Na hora, veio em mente o que não fizeram com o meu filho e com minhas netas, porque elas estavam também no carro. Juntei um grupo e fomos por contra própria atrás do meu filho e das meninas. Tinha noção do que podia encontrar no matagal, mas pensava a todo momento que tinha que me manter forte. Mas foi duro quando encontrei o corpo de meu filho. Mas duro ainda foi ter que me conter e ao mesmo tempo também controlar a emoção dos meus outros filhos e de um dos meus netos, que desmaiou na hora. Como se não bastasse a dor de um pai em saber que seu filho se foi primeiro, minhas netas sumiram.

Ninguém sabe o paradeiro delas, nem a polícia tem pistas. Desde então, eu iniciei por uma busca por elas. Fui três vezes em Pedrão. A primeira e a segunda vez vasculhamos tudo no entorno onde foi encontrado o corpo do meu filho e nada. A terceira ida foi na semana passada, porque um homem disse que sonhou com o corpo das meninas a 200 metros de onde estava o carro crivado de bala. Era numa outra mata, mas também não encontramos pista delas.

Buscas foram feitas e não localizaram as meninas
O que me deixa triste também é o tamanho da frieza das pessoas. Ligaram para gente dizendo que elas foram vistas. As pessoas não têm dó do nosso sofrimento. Sequer sabem a dor que passamos todos os dias. Ligaram dizendo que elas estavam internadas em hospitais de Santo Antônio de Jesus e Feira de Santana – fomos em vão. Uma outra ligação dizia que elas foram vistas com um rapaz em Guarajuba (praia de Camaçari) e que uma delas chorava. Também trote. O intuito era só atrapalhar. As pessoas não têm coração.
Tenho me apegado à fé. Frequento a (igreja) Testemunha de Jeová, mas ainda sou estudante da palavra. Faço minhas orações diárias. Peço por elas a todos instantes. A polícia disse que não há provas de que estavam no carro, mas acredito que minhas netas estavam com os pais porque não tinham com quem deixá-las, já que eles vinham comemorar o aniversário de meu filho. Além do mais, no banco do carona tinha um pacote de biscoito recheado que elas adoravam e embaixo, uma mamadeira da caçula, que sempre viajava no colo da mãe no carona, enquanto o pai gostava de ir no fundo, com a outra menina.

O carro tinha um total de 28 perfurações, eu contei. A maioria no lado direito. O banco do carona foi perfurado pelas balas. Do jeito que vi, se elas estavam dentro do carro quando atiraram, estão mortas. Vamos atrás delas, doa a quem doer. Vamos atrás até a última geração. Ainda tenho um pouco de esperança de que vou encontrar minhas netas, nem que seja desenterrar e enterrar novamente. Posso partir, mas as buscas vão continuar até o último Lima (fazendo referência aos netos).

Robson tinha 33 anos, já sabia o que era bom e o que era ruim. Errou, mas não é justo que minhas netas paguem pelo pai. Jamais iria imaginar que elas poderiam sofrer qualquer tipo de represália por conta do comportamento do meu filho. Um avô, que é pai duas vezes, jamais permitiria isso. Se soubesse desse risco, tomaria a paternidade. Hoje, tenho quatro filhos, todos casados e carreteiros. Robson era o quinto. Todos foram aconselhados, educados. Robson concluiu o primeiro grau e depois fez um curso de jardinagem. Mas não sei o que houve de errado. Talvez a facilidade de ter as coisas, porque ele nunca foi muito estudar. Há 20 anos deixei Valéria e vim morar aqui, em Simões Filho, com minha companheira. Não tinha contato diário com ele, por conta mesmo da separação. Sabia que ele usava maconha por causa do disse-me-disse do mundo.

O cara quando cresce, tem família e acha que a vida é só dele. Quando perguntava se estava fumando (maconha), ele me tirava de tempo, dizia “que isso, meu pai?”. Ele não era de se abrir, porque sabia que sou da lei, fui criado numa família de policiais. Na minha época, meu pai não batia, bastava só olhar e a gente já sabia. Mas nunca soube que ele vendia. Depois que ele morreu, o boato corre solto. Estão dizendo muita coisa, até que ele era gerente do tráfico da Katiara. Mas que gerente é esse que não tinha a polícia na sua cola? Já que ele era monitorado pela polícia, porque ninguém invadiu aqui o meu sítio atrás dele? Que chefe do tráfico é esse? Ninguém queimou ônibus quando ele morreu como fazem por aí. Era traficante? Era. Vendia? Vendia, mas não era tudo que disseram. Depois que morreu, aparece tudo e ele não está mais aqui para se defender.

"A dor é muito grande não saber onde minhas netas estão. Não desejo a dor que estou sentindo ao meu pior inimigo. Queremos elas do jeito que estão. Vivas ou mortas. Se mortas, queremos ter o direito de enterrá-las. Quero colocá-las ao lado dos pais (Robson e Juliana foram enterrados no cemitério Bosque da Paz). Preciso sossegar meu coração. Não tem dia, um instante que não penso nelas. Elas não têm culpa pelo o que o pai vinha fazendo. São inocentes. Que tipo de pessoas são essas que fazem mal a duas crianças inocentes? Que espécie de ser humano é este?”

Extraída do Central de Polícia / Foto: Carol Aquino/CORREIO)

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