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quinta-feira, 23 de março de 2017

Nordestina: terra do diamante, do ouro e da pobreza extrema

Para se conhecer a situação de extrema pobreza em que vivem milhares de pessoas, não é necessário andar muito. Na região sisaleira, contraditoriamente, as ricas terras da maior mina de diamantes da América Latina e do ouro a céu aberto, no município de Nordestina, são um exemplo da realidade vivida pelo sertanejo nesta parte da Bahia. 
Das 9.623 pessoas inscritas na Bolsa Família, programas do governo federal, aponta que 6.473 vivem em extrema pobreza, sendo mais de mil delas sem perspectiva de vida, um retrato duro e cruel da realidade desse povo sofredor, excluído e castigado pela seca que tem devastado plantações, pastagens, secado aguadas, rios, riachos, cacimbas e matado animais. Em outubro de 2016, eram 3.229 famílias inscritas no Cadastro Único do Programa Bolsa Família do governo federal, das quais 2.076 com renda per capita familiar de até R$ 85,00/mês. Em dezembro, o relatório apontou 1.767 famílias em estado de extrema pobreza e receberam benefícios com valor médio de R$ 241,35. As transferências feitas pelo governo federal no último mês do ano passado alcançaram o montante de R$ 517.939,00.
A desigualdade social neste município de 468 km², com quase 15 mil habitantes, foi camuflada ao longo dos 31 anos de emancipação política e administrativa da comunidade pelos ex-administradores, que escondiam a realidade dessa gente que vive praticamente insolados do mundo, nas regiões de Pocinhos, Palha, Poças, Salina, Mari, Marizinho, entre outras, em situação subumana, por não terem um teto para morar com dignidade. E, na maioria das vezes, não tem nem o que colocar na mesa para comer com os filhos. A pobreza é tão grande que o município de Nordestina desponta, também, de forma negativa, na estatística de acessibilidade ao campo, de trabalho e habitação, com alto índice de famílias vivendo sem as mínimas condições, em casas ainda de taipa com piso de terra batida, expondo seus moradores a picada de barbeiros, cobras, escorpiões, que podem levar uma pessoa à morte. Em algumas casas, panos velhos servem de portas.
Em 16 de abril de 2013, a reportagem da Sucursal da Tribuna da Bahia e Diário do Sisal em Coité, denunciou que cerca de 8% das famílias do município estavam passando fome. A matéria publicada na capa do diário sob o título “Falta água para o gado e comida na mesa” comoveu comerciantes, moradores da região sisaleira, uma advogada baiana que reside em São Paulo e uma grande rede de supermercado instalada em Coité, que fizeram doações. No dia 8 de maio, a reportagem da TB retornou a Nordestina para entregar aos habitantes da comunidade de Palha, uma tonelada de produtos arrecadados. Após as publicações das matérias, os moradores foram ameaçados por funcionários da Secretaria de Assistência Social de perderem os benefícios da Bolsa Família se voltassem a dar nova entrevista. Para abafar a repercussão das publicações, o ex-prefeito anunciou em julho de 2013, a construção de 460 casas, 420 nas áreas quilombolas e o restante na sede, em convênio com o governo federal, através do Programa Nacional de Habitação Rural, com recursos repassados pela Caixa Econômica Federal, da ordem de R$ 13,3 milhões, o que acabou não acontecendo. Já no dia 31 de julho de 2016, o ex-gestor pediu ao seu candidato a prefeito (derrotado nas urnas), que anunciasse a construção de mil casas com recursos próprios do município. Vale salientar que nos últimos quatros anos, nada mudou na vida dessa gente. 

Sem esperanças
A dona de casa, Maria de Lurdes, 51 anos, moradora da Fazenda Pocinhos, disse a reportagem da TB e Diário do Sisal que vive exclusivamente da Bolsa Família que recebe de cinco dos oito filhos. Ela mora em uma casa feita de adobe com cinco cômodos, sem piso e sem as mínimas condições de higiene. Insolada do mundo, a doméstica não tem água potável e nem energia elétrica. Sem rádio e televisão, ela disse não saber o que acontece no mundo e relata: “Moço, o rádio aqui são os meninos quando estão chorando com sede ou fome. Saber do que acontece por ai, só quando encontro com alguma pessoa conhecida. Olha moço, feijão e farinha, é o que temos para comer hoje. Até o ovo está difícil porque não temos ração para dar às galinhas”.  

Sem ter aonde trabalhar, a situação de Maria Estrela de Matos, 41 anos, mãe de sete filhos, também moradora da Fazenda Pocinhos, não diverge da situação de outros moradores da região. Ela que tem R$ 326,00 da Bolsa Família como principal fonte de renda para alimentar a família, disse: “Temos que sobreviver com o que temos”. Sem energia em casa, ela tem como diversão, um rádio velho para saber das noticias. "Um carro de água para beber custa R$ 150,00 e tenho que dividir o preço com os vizinhos. A comida de hoje é feijão e arroz. Quando dá certo, a gente compra um tiquinho de carne com osso”, contou.
A doméstica Eriana Paula de Jesus, 27 anos, casada, moradora na comunidade de Poças, comentou que, com os motores de sisal parados por conta da seca, o marido está desempregado e os R$ 256,00 que recebe da Bolsa Família, é o dinheiro que tem para colocar a comida na mesa. “Graças a Deus, hoje nós temos feijão, macarrão, arroz e salsicha para comer” disse. O lavrador Antônio Nilson Batista dos Reis, do povoado de Bastião, que trabalha em destoca de pasto, informou que recebe R$ 230,00 por semana e completou dizendo que a falta de trabalho e água na região vem tirando o sossego de muitos pais de família que não tem o que fazer. 

Perdas incalculáveis  
O homem se queixa da natureza, mas ele é o grande responsável pelas mudanças que nela ocorrem. As perdas são incalculáveis e o desespero está estampado na fisionomia de cada criador. Do plantel de 300 cabeças de gado, cerca de 30 já morreram de fome e sede na Fazenda Boavista. Ao alimentar uma vaca no girau para não ver o animal morrer à mingua, o criador Herisvaldo Vanez Matos Soares disse a TB e Diário do Sisal que os gastos nesses últimos seis meses com ração para salvar o resto do rebanho são incalculáveis.
Sem ter o que dar aos animais para comer, ele vem comprando milho moído, caroço de algodão, farelo e bagaço de cana como alternativa alimentar devida a falta de forragem nos pastos. Vanez informou ainda que gasta cerca de R$ 6 mil/mês com água e tem dia que chega a comprar seis carros-pipa.
“Será que o governo não tem dó da gente? Já não estou aguentado mais. São oito meses nesse batido. Não tem sábado e nem domingo para descano. Todo dia ando uma légua (6 km), para buscar uma carga de mandacaru no jegue, para alimentar seis cabeças de gado que tenho”. Com as mãos calejadas pelo trabalho na roça, o pequeno criador Moises da Costa, 66 anos, morador da Fazenda Nova, disse a TB e Diário do Sisal que paga R$ 5,00 por cada carga, ao lembrar que o mandacaru comprado é para enganar a fome dos animais e não para encher a barriga. Já pelo carro de água, ele paga R$ 80,00. 

Situação de emergência e fim das casas de taipa 
Recém-reconhecido em Situação de Emergência pelo governo do estado, o município de Nordestina, aguarda a confirmação federal para ter abastecimento por carros-pipas do Exército e recursos para atender a população. “No momento, as ações de nossa administração estão voltadas ao atendimento da população que necessita de água para o consumo humano e animal, através de cinco carros-pipa contratados com recursos próprios do município. Estamos fazendo um levantamento para aumentarmos, também, o número de famílias beneficiadas com cestas básicas (100 famílias contempladas, no momento). Até agora não temos tido nenhum tipo de ajuda das esferas estadual e federal. Hoje, o município tem um gasto da ordem de R$ 50 mil/mês com abastecimento de água e a tendência é aumentar esse valor com o decorrer do tempo, já que não há previsão de chuvas para a região pelos próximos meses. Atendemos, também, os habitantes da sede com carro-pipa, por conta da dificuldade da Embasa em fornecer água potável. Já mantivemos contato com o gerente regional da empresa para que o problema seja sanado”, pontuou o prefeito e médico Erivaldo Carvalho a reportagem da TB e Diário do Sisal.
Erradicar as casas de taipa existentes no município é uma das metas de governo do prefeito de Nordestina Erivaldo Carvalho. Ele vem realizando um trabalho com a Secretaria de Assistência Social, na identificação e cadastramento das famílias que moram nesses tipos de casas. "Temos a promessa da Funasa na liberação de R$ 500 mil, para viabilizarmos o projeto que visa acabar com as casas de taipa e a erradicação do barbeiro, evitando, assim, a proliferação da doença de Chagas no município. As localidades com maior números de casas de taipa são Pocinhos, Palha, Poças, Salina, Mari, Marizinho”. Com a economia esfacelada por conta da seca, Erivaldo Carvalho disse que o agricultor vem sofrendo muito com a estiagem, principalmente a agricultura de subsistência – milho, feijão e farinha. Concluindo, o prefeito citou que a pecuária tem sofrido muito por conta da morte de animais pelos quatro cantos do município. “Se não tivermos apoio dos governos estadual e federal, vai ficar inviável a prefeitura continuar prestando atendimento às famílias”, concluiu o prefeito em entrevista exclusiva a reportagem da Tribuna da Bahia e Diário do Sisal.

Fonte: Diário do Sisal

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